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Simplesmente Beatriz

Monday, November 20, 2006

E das leituras apreendo que....




















***O Valor das Pequenas Coisas***

Aprenda a escutar a voz das coisas,
dos fatos, e verás como tudo fala,
como tudo se comunica contigo.

Em cada indelicadeza,
assassino um pouco aqueles que me amam.

Em cada desatenção,
não sou nem educado e nem cristão.

Em cada olhar de desprezo,
alguém termina magoado.

Em cada gesto de impaciência,
dou uma bofetada invisível nos que convivem comigo.

Em cada perdão que eu negue,
vai um pedaço do meu egoísmo.

Em cada ressentimento,
revelo meu amor-próprio ferido.

Em cada palavra áspera que digo,
perdi alguns pontos no céu.

Em cada omissão que pratico,
rasgo uma folha do evangelho.

Em cada esmola que eu nego,
um pobre se afasta mais triste.

Em cada oração que não faço, eu peco.

Em cada juízo maldoso,
meu lado mesquinho se aflora.

Em cada fofoca que faço,
peco contra o silêncio.

Em cada pranto que enxugo,
torno alguém mais feliz!

Em cada ato de fé,
eu canto um hino à vida.

Em cada sorriso que espalho,
planto alguma esperança.

Em cada espinho, que finco,
machuco algum coração.

Em cada espinho que arranco,
alguém beijará minha mão.

Em cada rosa que oferto,
os anjos dizem: Amém!

Somos todos, anjos com uma asa só.
E só podemos voar quando "abraçados uns aos outros".

Roque Schineider
www.sabedoriadosmestre.com

**********Meu rosto**********

Meu rosto se mistura com o dia
Nuvens telhados ramagens e Dezembro
Apaixonada estou dentro do tempo
Que me abriga com canto e com imagens

Tão abrigada estou dentro da hora
Que nem lamento já a tarde antiga
Tudo se torna presente e se demora
Será que o dia me pede que eu o diga?

Sophia de Mello B. Andresen

******Caminho da manhã********

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não enc
ontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopr!
o corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. Á tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de sa
lsa e um ramo de hortelã. Mais adiante!
compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e !
dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

Sophia de Mello B. Andresen

Saturday, November 11, 2006

Madrugada d’alma

Madrugada d’alma
(num instante de indefinível conflito interior)

Angustia, nó, vazio no peito.
Vontade de se fazer gostar
Necessidade de se fazer gostar
Amar, sem nem saber porque.
Estar junto só pela necessidade de estar.
Viver em função de ...
Abdicar a tudo e a todos
Mostrar um coração aberto, não importando de que forma
Amar, sufoco oco
Coração oco, fechado e isolado
Só para uma pessoa
Sentimento inesgotável. Porquê?
Porque sentir isso? Porque não se fazer sentir isso?
Dizer as coisas sinceramente, abertamente
Nunca aceitei te amar de maneira comum
Amar, amor
Desejo pouco, tudo tão simples
Só ser amada
Desejo tudo, com tanto
Amar, Amor, Amigo
Não quero ser uma barreira
Nem só ser aturada
Quero é caminho aberto
Ouvir tudo o que tens à dizer
Desacredito de tudo por um momento
A noite me consome,
e logo em seguida as mesmas coisas de ti me vem a cabeça,
momentos, palavras, atos, letra de música, tudo
Ah! Oco sufoco
Para que dizer tudo isso?
Porque fui gostar assim?
Para que fui te atrapalhar com meu amor?
Não tenho esse direito
Não exijo nada
Nem me exiges nada
Não! Nada disso!
O importante é que esse amor existe
e não posso negar, dure quanto durar
sempre a cada encontro será como se fosse
pela primeira vez.
Seria preciso que não houvesse o tempo
Para que eu pudesse te esquecer
No fim de tudo,
Tu estás em mim e eu em ti
Não importa de que forma
Deixa-me consciente levar este amor e,
Então se fez dia.

Beatriz Abrantes